
Isabella Swan é uma adolescente americana tão comum quanto tantas outras adolescentes espalhadas pelo mundo.
E nem mesmo o fato dela estar apaixonada pelo também adolescente Edward Cullen faz diferença: Todas as demais também estão. E não importa que Edward seja um vampiro. Na verdade, é exatamente por isso que todas se apaixonam por ele. Edward e Bella protagonizam a série de livros da autora estadunidense Stephenie Meyer que já se tornou febre nos EUA, no Brasil e no mundo, com mais de 50 milhões de cópias vendidas de seus quatro volumes: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Breaking Dawn. Edward e sua família são vampiros ‘do bem’: Têm aparência humana, sem caninos afiados nem capas soturnas. Não dormem em caixões e, principalmente, não se alimentam de sangue humano! Então, o que determina a febre em torno desta série? Seria apenas uma nova onda adolescente?
Os livros são direcionados para os jovens, daí seus personagens serem jovens comuns que estudam em escolas comuns e vestem roupas que todo jovem usa. O psicólogo Laurence Steinberg, da Temple University, um dos profissionais mais conceituados dos Estados Unidos, afirma que os adolescentes se movem mais facilmente entre o específico e o abstrato, geram sistematicamente possibilidades alternativas e explicações e comparam o que realmente observam ao que é possível; que os adolescentes tornam-se mais capazes de pensar sobre coisas abstratas – coisas que não podem ser experimentadas diretamente através dos sentidos e que os adolescentes apresentam mais probabilidade do que crianças para ver as coisas como relativas, ao invés de absolutas. Talvez isto explique a facilidade com que os jovens desenvolvam suas paixões e, até mesmo, seus vícios. Mas isto não é de hoje. As marcas registradas da adolescência são, justamente, a inquietação, a inconformidade e a aura sonhadora. Segundo Jean Piaget, também psicólogo, no início da adolescência ocorre uma fase de interiorização, e ele parece anti-social. Condena, despreza e quer mudar a sociedade. Depois surge o predomínio dos grupos, que se constituem como sociedades de discussão, quando o mundo é reconstruído em comum, com discursos que combatem o mundo real. A adaptação à sociedade se dará à medida que o adolescente de reformador transforma-se em realizador, reconciliando o pensamento formal com a realidade das coisas. Durante este período surge a capacidade de autonomia plena, quando o adolescente compreende relações de reciprocidade, coordenação de valores, cooperação. Já há uma moral individual, onde são definidos seus próprios valores. Piaget explica que ocorrem diferenças no ritmo do desenvolvimento entre as pessoas e as atribui às variações na qualidade e freqüência da estimulação intelectual recebida dos adultos durante a infância e adolescência.
Neste ponto temos em comum a exortação de Emmanuel, no livro “Trilha de Luz”, de que ‘quando se repetem por todos os recantos os impositivos da revisão do tratamento em favor da juventude, é razoável que se aplique o mesmo critério para a madureza. Nem conceituação de irresponsabilidade para os jovens. Nem alegação de inutilidade para os adultos (...) Não vemos qualquer conflito mais grave agora que noutras épocas, entre os mais moços e os menos moços. O que existe é o anseio da juventude no sentido de se edificar segundo a sua própria vocação, tanto quanto anotamos na madureza a necessidade de aproveitar, com mais segurança e com espírito mais amplo de reconhecimento a Deus (...)’.
A saga de ‘Crepúsculo’ fala de um grande amor, mas traz para o cotidiano um universo fantástico e a curiosidade que os vampiros despertam desde os tempos do Conde Drácula. Assim, a obra de Stephenie Meyer ultrapassa os muros adolescentes e conquista também os adultos, em mais uma demonstração que a magia, o encanto, o sonho das grandes paixões, dos heróis e das mocinhas estão sempre presentes em nossas vidas e servem como ponte entre dois mundos que não precisam ser antagônicos. Pelo contrário, como diria o já citado Emmanuel: Tão livre e robusta é a mocidade para zelar, disciplinadamente, pelos seus próprios interesses, quanto robusta e livre é a madureza para defender a sua própria felicidade em qualquer lugar, tempo, circunstância e condição, desde que se mostre agindo ponderadamente.
Um comentário:
Algo nos adolescentes acredita na luta por um amor difícil ou complicado de se realizar. Isso permanece em alguns adultos, enquanto outros se desencantam. Eu creio que essas histórias fantásticas trazem esperança de que o amor seja vitorioso no final, ainda que em alguma dimensão paralela, embora a nossa realidade concreta pareça tantas vezes dizer que não... A gente que é espírita sabe que ele sempre acaba vencendo, de algum jeito e em algum tempo. Mto bacana o texto!
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