terça-feira, 14 de abril de 2009

É UM PÁSSARO? É UM AVIÃO?



Christopher Reeve é considerado o melhor e mais perfeito intérprete do Superman, herói dos quadrinhos e do cinema. Em 27 de maio de 1995 um acidente o tornou tetraplégico. Era impossível olhar para ele sem lembrar suas cenas antológicas, dentro do uniforme azul, voando pelos céus e ajudando as pessoas. Em sua cadeira de rodas, Reeve demonstrou que absorvera o espírito heróico do personagem que o consagrou, lutando em favor das pesquisas com células-tronco e dirigindo uma fundação voltada para melhorar a condição de vida de pessoas com algum tipo de paralisia. E, assim como o Homem de Aço, passou uma lição de vida, que pode ser resumida numa frase do próprio Reeve: "Um herói é um indivíduo comum que encontra a força para perseverar e resistir apesar dos obstáculos devastadores." Reeve morreu em 10 de outubro de 2004.

José Alencar, vice-presidente da República, vêm lutando pela vida há onze de seus quase oitenta anos. Em um exame de rotina que o vice-presidente descobriu os primeiros tumores malignos, em 1997. O rim direito e dois terços do estômago foram retirados. Cinco anos depois, outro tumor, dessa vez na próstata, que foi removida. Em julho de 2006, um sarcoma, um tumor maligno, apareceu no abdômen. Removido, o tumor voltou quatro meses depois. Em 2007, o vice-presidente foi operado outra vez. Mais um ano e o sarcoma voltou a se formar. Pela oitava vez, José Alencar foi para a mesa de cirurgia. Mas não foi a última: em fevereiro deste ano, José Alencar enfrentou 18 horas de uma das mais longas e complexas cirurgias da medicina. Ao perceber a apreensão da equipe, Alencar reuniu suas últimas forças para chamar a atenção dos médicos, conclamando a fé e a coragem de todos. O corte cirúrgico foi feito em duas etapas: um de cima para baixo, de cerca de 30 centímetros, e outro da esquerda para a direita, do umbigo até as costas, na coluna vertebral. Alencar foi colocado ligeiramente inclinado para a direita. Ao abrir o abdômen, o cirurgião viu que, de fato, o câncer ocupava quase todo o lado esquerdo. Foram retirados dez pequenos tumores.Depois, o médico deslocou o único rim do vice-presidente e começou a remover o tumor principal. Comprometidas por causa da doença, partes dos intestinos grosso e delgado e do ureter - o canal que liga o rim à bexiga - foram retiradas. O tumor havia tomado toda a região dos vasos ilíacos, responsáveis por levar sangue à bacia e às pernas. Essa região é chamada pelos cirurgiões como "o ponto da morte" porque qualquer imprecisão com o bisturi pode provocar uma hemorragia irreversível.. Os médicos também adotaram um procedimento poucas vezes feito no Brasil: a quimioterapia hipertérmica. Todo o abdômen foi lavado com o próprio medicamento a uma temperatura de 42 graus, o que aumenta as chances do remédio matar as células do tumor.
José Alencar e Christopher Reeve são exemplos daquele tipo de herói que Emmanuel, em Alma e Coração, chamou de “heroísmo obscuro”, o heroísmo dos que sabem viver “dia por dia, no círculo estreito das próprias obrigações, a despeito dos empecilhos e das provações que os supliciam na estrada comum”. Segundo Emmanuel, a matrícula na escola do heroísmo silencioso está aberta constantemente para todos nós. E nos convida a revisar as palavras de Jesus, que afirmou “Quem quiser caminhar nos meus passos, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." O que Jesus espera é que tenhamos coragem suficiente para abraçar o “heroísmo oculto na fidelidade aos nossos próprios deveres”, confiantes na justiça divina de que nada acontece por acaso. Mesmo afirmando que não se tratou de um ato de heroísmo, já que não tinha outra opção a não ser operar, José Alencar também mostrou resignação ao agradecer a Deus, sem pedir nada. “Se Deus achar que a minha vida possa ser útil e me der mais um dia de vida, eu fico naturalmente reconhecido e vou procurar fazer que esse dia seja útil”, afirmou o vice-presidente que não tem medo da morte e compreende a vontade Divina, reconhecendo que Deus não faz nada de ruim contra ninguém. Allan Kardec nos ensinou que se tivermos um espinho cravado em nosso pé, devemos arrancá-lo, para que possamos caminhar melhor. Afinal, se temos os nossos quadros de dores, de provas, de expiações, temos, também, a coragem para reagirmos e removermos as pedras do caminho. Uma coragem típica não somente dos heróis que trazem um “S” no peito, mas, principalmente, dos heróis que trazem Deus no coração.


4 comentários:

Paula disse...

Simplicidade, concisão, clareza, precisão. Voltamos ao Renascimento?

Excelente.

Ricardo Alves da Silva disse...

Tudo o que a Paula disse... e além disso, fazendo jus ao símbolo na traseira do bom Ford Ka (se é que ainda tem). Sempre achei que faltava um artigo fazendo referência a um dos seus ídolos.
Grande abraço!

George De Marco disse...

Nossa, assim vocês me deixam envergonhado... Agradeço muito a vocês pelas palavras elogiosas e pelo estímulo!

Quanto ao Ka e sua referência idolátrica, sim, ainda existe... Rsrsrs

Sempre que possível, a gente encaixa um ou outro ídolo. Faz bem, né?

Paula R. O. disse...

Primo, adorei!
Me tocou a frase: "heroísmo oculto na fidelidade aos nossos próprios deveres."
Mesmo! Fiquei egoísticamente pensando na minha vida...