No cinema, Hitler enxergava em Metropolis, do cineasta vienense Fritz Lang (1890-1976), coincidências com sua metafísica. Por isso, o filme se tornou o favorito não só do Führer, como também de sua esposa, Eva Braun e de muitos acólitos do 3º Reich. Thea Von Harbou, esposa de Lang, foi quem escreveu o roteiro e, mais tarde, devotou-se ao nazismo. Lang não ficou nada lisonjeado pela preferência do ditador, e quando convidado a assumir a indústria cinematográfica nazista, fugiu para Paris. Há quem reconheça nesse filme preto e branco, mudo e de quase três horas uma crítica ao autoritarismo. Todavia, o ideólogo oficial da doutrina e do partido nazista, Alfred Rosenberg, assim como Hitler e seus companheiros, encantaram-se com a trama, vendo nela alguma conexão com o nazismo.
Na música, Hitler se valia das óperas de Wagner para fortalecer a mística de sua ideologia neopagã e influenciar a mente de seus seguidores. E quem imaginaria ser ele fã do desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões, de Walt Disney? Hitler enxergava na protagonista certo ar nórdico e uma postura germânica, alquímica, como se fosse um símbolo de suas idéias racistas.
Hitler é, sem dúvida, uma síntese de tudo que o ser humano é capaz de criar, distorcendo informações, religiões e até fatos históricos, visando seu próprio interesse. Não à toa, Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista, cunhou a célebre frase “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se tornando verdade”.
Com sua mentalidade biorracista, Hitler confirmou sua estranha cosmovisão pangermânica do mundo através do sectarismo, do ódio e pela exclusão, secundada por um grande número de símbolos, dando contornos ritualísticos ao holocausto. Um destes símbolos, a suástica, já era utilizada por celtas, tibetanos, hindus e outras culturas bem anteriores à era cristã. Hitler enxergou naquela cruz gamada, uma forma de suplantar a religião de Jesus. Com base em dados pseudocientíficos, sem qualquer metodologia, como as obras do extravagante autor Houston Stewart Chamberlain, o Führer e seus seguidores acreditavam que o pai de Jesus era ariano, um alto magistrado indo-germânico, com quem Maria teria traído José, daí o Cristo ser de raça ariana. Este rocambolesco roteiro de novela mexicana teria sua questão mais complexa na vinculação de Jesus, ariano, com seus apóstolos hebreus. História absurda e desrespeitosa, mas que deixou muita gente em dúvida na época. Para Hitler, sempre baseado nas absurdas teses ariosofistas, aquilo era apenas uma espécie de código cripto-ariano.
Platão, discípulo de Sócrates, também foi vítima do dogma nacional-socialista ariano, pois Hitler adorava o mito platônico da caverna, obviamente interpretando-o em sua obsessão ariosofista, em que a mentira grassava deforma virulenta. Como no caso da compilação de falsidades conhecida como Os protocolos dos sábios de Sião. Na verdade, um plágio comprovado de Diálogos no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, feito por um guru judeofóbico de pseudônimo Serguei Alexándrovich Nilus. Uma das cópias desta fraude caiu em mãos do já citado Alfred Rosenberg, acostumado a tungar obras de arte e demais patrimônios de pinacotecas, museus e posses privadas de judeus. Rosenberg dava-se ao trabalho de buscar por qualquer tipo de documentação relacionada às idéias doutrinárias arianas e, toda aquela que objetava tais opiniões ideológicas, era extirpada.
A verdade teria que ser varrida do planeta, mas até os outros mundos foram vítimas do nazismo.
É o que veremos na terceira – e última – parte deste artigo.
Autores: Paulo Henrique de Figueiredo e George De Marco
Ilustração: George De Marco
Arte-Final: Fred Aguiar & Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário