quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ALICE NO PAÍS DA TERAPIA - E DOS IDOSOS



Tenho uma prima que se chama Alice. Licinha, para os íntimos. Sua história de vida, desde o momento que retornou a este planeta, faz dela uma das pessoas mais realistas, inteligentes, capazes e incompreendidas que conheço. Ela já se importou muito com isso. Agora, consegue enxergar cada vez melhor seu lugar no mundo, seu papel nesta vida, sua posição na presente encarnação. Está desenvolvendo, a cada dia, os “olhos de ver”. Conquistou isto com bastante reflexão, muito estudo do espiritismo, e, também, com o auxílio de terapia. Ela recomenda tal prática para todos. Tanto espiritismo e reflexão quanto terapia. Sua forma de analisar a humanidade (muitas vezes de forma bem divertida) tem me ajudado a também abrir meus olhos para coisas que estão bem ali, na nossa cara, mas não enxergamos porque não queremos ver.

Desde que vim morar em São Paulo, troco e-mails quase que diariamente com Alice. São linhas e mais linhas de análises diversas sobre temas variados sobre questões cotidianas. O conteúdo é tão interessante que, na brincadeira, sugeri que publicássemos nossos e-mails em forma de livro. Está na moda. Para ela “venderia três:   Um meu, outro seu e outro da tia.   Nem mãe tenho mais”. A ‘tia’ a que ela se refere é a minha mãe. Que, por sua vez, alimentou nosso debate sobre velhice e as manias que os idosos adotam, daí dizerem que a velhice é uma segunda infância. Alice discorda: “sinceramente, não acho que tenha a ver com velhice, é da pessoa. É do ego exacerbado, do tem que ser a minha maneira, e nequinha de GRATIDÃO”. E dispara contra o preconceito aos idosos: “você acha que esse problema só ataca os velhos? E os crimes no trânsito? E os crimes ‘por amor’? E as brigas em família?”.

A questão do ego é capital para minha prima: “O nosso ego é recalcado, mas nem por isso menor. O problema também está nas várias encarnações de mando, com tudo a nossa maneira, a tempo e a hora, com o respeito que impúnhamos de uma maneira ou de outra.   Nossa palavra e ordens eram inquestionáveis e agora todo mundo tem a sua.   E respeitar isso não nos é fácil, já que nossa autoridade não é mais reconhecida - logo nós que sabemos de tudo, temos solução para tudo e fórmulas corretas para todos.  Já se pegou achando que todo mundo é burro? Que não sabe como eles não enxergam o óbvio?”.

Queremos sempre mais e mais, ficamos mais arrogantes, mais infelizes do que nunca e amando cada vez menos. E isso não tem mesmo a ver com a idade. “Não à toa”, – prossegue minha prima – “Francisco, o velho de Assis, pediu a Deus:  Amar mais do que ser amado (...) Porque é morrendo (o ego) que nascemos para a Vida Eterna (aqui e lá)”. Precisamos estar mais cientes do nosso propósito e ir de encontro a ele, antes que a rabugice, a dor e o medo tomem conta de vez de nossas vidas. Que medo seria esse? Minha prima responde: “Eu não tenho medo da velhice ou da morte. Só tenho medo de mim mesma. Porque se tens medo é porque a consciência acusa, e ela tem sempre razão. E vez por outra a minha me acusa (que modéstia, só vez por outra) de não estar tentando realmente, me esforçando de fato;   me lembrando do que já imputei ao meu semelhante.   Hoje a minha arma é a língua, que preciso também domesticar para não ferir mais ninguém. Mudei de arma, mas tenho que mudar mesmo é o sentimento, trocar a ira e a dureza pela compaixão que todos os tempos pedem de nós. Ou seja, estou na contabilidade divina, pior do que qualquer velho rabugento que já vê a dona morte apontando o dedinho na sua direção”. 

E, como boa tutora que se apresente, Alice sempre me dá conselhos valiosos, lembrando, por exemplo, o maior terapeuta de todos, Jesus: “’Queres ser o maior? Seja aquele que mais sirva’. Pois é, primo, vou atrás dessa vontade inabalável de servir, pois o que já reparei mesmo é o monte de vezes que eu acho que por ser mais velha eu teria mais direitos, mais considerações que tenho. Daí nascem as reclamações e ressentimentos, que por serem desprezíveis, não fazem parte de mim, mas só dos outros”. Afinal de contas, é mais fácil nos aceitar como pensamos ser e não como realmente somos. Mas precisamos desta verdade enquanto estamos a caminho. “É uma lição necessária de aprender, mas nem sempre estamos preparados para saber de algo escondido de nós mesmos ou do outro. Precisamos de equilíbrio para lidar com o que percebemos e saber o que fazer com isso. Senão a decepção é inevitável”. E assim que Licinha se despede em outro iluminado e-mail, com mais uma frase admirável: “A vida é realmente muito boa,  se lembrarmos que é uma escola maravilhosa!”.

A imagem que ilustra este artigo é da fotógrafa russa Elena Kalis. Conheça mais o lindo trabalho dela clicando aqui

4 comentários:

Anônimo disse...

Vale lembrar que falar é fácil. Os artistas da globo falam coisas maravilhosas, mas são tão escórias quanto nossos políticos.

Uma pessoa falar que velho quer tudo da sua maneira... concordo, porque eles são teimosos que nem mula, e se julgam mais espertos, enquanto na verdade são mais burros, e com isso só fazem besteira na vida e perdem amigos.

Falar sobre velhice e ego, e agir como um, é pior quanto saber dos males do cigarro e fumar. No fim das contas, o fumante pelo menos saber que está errado.

Anônimo disse...

Não entendi o que tem a ver os artistas da Globo, com políticos e idosos...
Parece um desabafo de alguém muito revoltado, mas que esquece o óbvio: quem não morre, envelhece. Portanto, lembre-se de suas palavras quando (ou se) vc envelhecer.
Pois, de fato, falar é fácil. Difícil é compreender por que o fumante fuma e por que agimos como idosos - escrevendo palavras amargas assim...

Fred disse...

Ego é um negócio tão interessante que deveria ser estudado com mais calma, existem pessoas que usam seu propio ego inflado como meio de sobrevivencia, como por exemplo... fica repetidamente falando sobre seus "feitos", e só assim consegue algum trabalho ou notoriedade, e quando consegue vimos que não é nada daquilo, e fica aquela situação patética... vc disse que era bom, me vendeu uma idéia maquiada, hj vemos a verdade mas nem assim este ego desinfla... eu acho isto tão deprimente, estas pessoas que erram... erram feio, mas ainda assim ostentam um Ego como se fosse a oitava maravilha do mundo... estes sim são os egocentricos que mais me incomodam.... As pessoas deviam ouvi um pouco mais sua prima Alice, quem sabe assim elas não se parecessem tanto com a Rainha Vermelha...

Abs
Fred

Ricardo Alves da Silva disse...

Poucos têm paciência com os mais velhos. Eu mesmo me pego muito distraído nesse quesito. Minha mulher, infinitamente mais inteligente e sábia que eu, vive me dando puxões de orelha.

Fácil perceber também pela quantidade de atividades de responsabilidade socioambiental voltados para crianças e para os idosos.

Alguns justificam: estamos investindo no futuro.

Tudo bem, mas será que é possível construir o "futuro" sem cuidar do "passado", se é que os idosos representam o passado?

Só sei que estou envelhecendo, enquanto não morro...

E espero ser um velho feliz ao lado da minha mulher, mesmo que perturbando o juízo dos meus filhos e dos meus netos! E pretendo educá-los para que entendam que velhos não são burros, nem de longe se comparam a isso. A nossa ansiedade de jovens é que não acompanha suas percepções. E neste caso, quem é o burro?

Para isso, preciso urgentemente aprender a olhar a velhice com outros olhos, ter mais tempo para ficar com meus pais e conversar com eles, ou só ouvi-los com a atenção que eles merecem.

E sobre anonimatos, artistas da globo e fumantes? Hein?! Pode repetir? Não entendi nada!

Deve ser a bendita velhice chegando... mas acho que é mais uma malandragem dos velhos, assim fica como não entendido o que é incompreensível.