sexta-feira, 9 de outubro de 2009

TEMPOS MODERNOS, DORES DE SEMPRE







Sobre metas e montanhas é o sugestivo título do novo livro de minha amiga Rita Foelker. Muito conhecida nos meios Espíritas, Rita é médium, bacharel em filosofia, pedagoga, origamista e escritora de textos tão elegantes quão profundos. Por acumular tantas funções, Rita escreveu esta delicada obra baseada em experiências próprias de vida, com textos que buscam aprimorar os entendimentos de temas não somente espíritas, mas filosóficos, e suas consequências nesta nossa jornada evolutiva. Portanto, o livro fala com todos nós. As metas são nossos planos de vida e as montanhas, aqui, surgem como os desafios que precisamos enfrentar a cada dia, a cada instante.

Uma frase que me chamou muito a atenção neste livro foi: “Cuidado com metas para longo prazo”. Eis uma circunstância que se repete ao longo da história humana. Metas para longo prazo. Por sermos seres infinitos, temos o estranho hábito de planejar nossa vida do fim até o começo, como nos diz a canção. Quando nasce um filho, os pais já fazem planos para seu futuro, até mesmo profissional. Quando arrumamos uma namorada, ou namorado, já imaginamos um casamento, com filhos, cachorro e casa no campo. Quando arrumamos um bom emprego, já nos enxergamos nele até a aposentadoria ou mais além. Quando ganhamos dinheiro, já nos metemos em financiamentos extensos, a perder de vista. Quando conhecemos alguém, já construímos uma amizade eterna. Quando casamos, juramos amor até que a morte nos separe... A principal conseqüência? Desilusão.

Afinal de contas, está tudo na nossa cabeça, na nossa imaginação, na nossa vontade de vencer. Sempre foi assim. Talvez seja esse um dos motores que movem a humanidade pois, como já dizia John Lennon, “vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”. Mas aí surgem as montanhas e nos assustamos diante de sua imponência. Diante dela, duas alternativas: tentar dar a volta ou enfrentá-la. Não é covardia fugir da montanha, apenas estaremos retardando nossa caminhada, pois contorná-la é perder um longo e precioso tempo tentando achar outro caminho. No mais das vezes, acabamos nos desorientando, tendo que voltar e retomar a caminhada do ponto em que desviamos.

Enfrentar a montanha não é nada fácil, mas a vida não é de facilidades! Se vamos sofrer, que seja lutando, acreditando, tendo fé. E olha que Jesus nos falou sobre a fé que move, justamente, montanhas! Escalar a montanha não evitará nossas dores, mas, ao menos, estamos enfrentando nossas dificuldades com galhardia de quem sabe aonde vai chegar: no topo! Isto significa evoluir - nossa meta principal nesta e em todas as vidas. A evolução é incessante, mas cada um tem sua velocidade e, por isso, não adianta se espelhar na experiência alheia. Cada um de nós tem sua história, seu sofrer, sua ilusão. Cada um de nós tem sua (ou suas) montanha(s). Como dispomos de nosso livre-arbítrio e como nossa vida é uma sucessão de escolhas, devemos estar sempre atentos aos caminhos que tomamos, às escolhas que fazemos. Escolhas que são nossas, pois a vida é nossa e, como diz aquele adesivo engraçadinho que circula em alguns carros da cidade: “Deus nos deu a vida para que cada um cuide da sua”.

Ao fazermos metas para longo prazo, vivemos um amanhã que talvez nem chegue e, quando nos deparamos com isso, sofremos. Dom Pedro II achava que iria governar o Brasil para sempre, e sofreu quando foi deposto. Santos Dumont acreditava que seu invento seria usado apenas para o bem, mas quedou-se depressivo ao ver aeronaves em uso militar. Adolf Hitler imaginava conquistar o mundo eternamente, mas suicidou-se ao ver seus planos ruírem. E aquele desempregado sofre, pois queria continuar trabalhando; e aquela namorada chora já que o amor eterno se foi; e aquela ‘amizade infinita’ nem responde nossos e-mails... O mundo moderno inventou novas formas para vivermos melhor, e, de fato, temos facilidades que nossos antepassados não tiveram. Mas isso não significa que a luta de viver e evoluir está menos árdua e dolorosa. Talvez tenha até criado mais formas de sofrer, pois na ânsia de conquistarmos tantos bens, fazemos mais e mais planos que, quando frustrados, nos fazem sucumbir ao peso da tristeza.

Jesus, Mestre e modelo, prometeu consolo aos que sofrem e choram, chamando-os “bem-aventurados”, posto que estes têm ocasião “de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus”, conforme Lacordaire, em O Evangelho segundo o Espiritismo e, quando conseguirmos “dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: ‘Fui o mais forte’".

Diante da montanha, subamos. Mas cuidado com metas para longo prazo.

Um comentário:

Ricardo Alves da Silva disse...

O que dizer além de ótimo!
Estamos juntos, mesmo que distantes, na caminhada!
Parabéns!