terça-feira, 4 de março de 2008

“Na violência, esquecemos quem somos.”

(Mary McCarthy)



No momento em que você lê estas mal-digitadas linhas, algumas dezenas de conflitos armados acontecem no planetinha que vivemos. Conflitos causados pelo terrorismo, pela pobreza, por recursos naturais, por questões étnicas e religiosas, por conta de separatismos, por causa da pobreza e até em nome da segurança global. E ainda tem a violência urbana que, no Brasil, mata mais que a guerra em Bagdá. Ao contrário das guerras clássicas, cujo objetivo era fortalecer o “vencedor”, as novas formas de conflitos armados também estão dentro das sociedades civis. Por trás de cada um deles, existe uma combinação de fatores altamente explosivos. Entre eles, uma aparente incapacidade do homem moderno em compreender o espírito de sociedade, já que sua atenção está direcionada para um imediatismo em adquirir bens, riqueza, poder e lucro. Ao mesmo tempo, temos o grande número de pessoas que ficam excluídas da vida econômica em todo o mundo, não podendo acompanhar a competitividade dos demais. Estando a evolução do homem subordinada ao relacionamento com outros seres, pode-se concluir que os atos de violência surgem do conflito entre pessoas. Esse contato diário com os atos extremados do ser humano torna as pessoas mais insensíveis, levando-as a desconsiderar suas pequenas atitudes de violência, esquecendo de colocá-las no rol daquelas que devem sofrer o esforço de transformação no trabalho constante de auto-aprimoramento. Porém, não desconsideremos que a palavra violência exprime todo pensamento, complementado ou não por palavras e ações, que exteriorize um sentimento contrário à lei do amor e da caridade.
Onde nasce a violência, afinal?
Em 1801, o médico francês Philippe Pinel, iniciador do tratamento médico da loucura, examinou um homem nobre que jogara sua esposa em um poço, após uma discussão. Pinel constatou que o homem não apresentava nenhuma doença mental. Sigmund Freud, criador da psicanálise, estudou o comportamento irracional do indivíduo. Nos dias de hoje, estudiosos tentam associar a origem de certos comportamentos a causas genéticas e ambientais (o temperamento, herança genética, pouco alterado pelo ambiente, interage com o caráter). O que todos eles descobriram? Que a violência é um comportamento ancestral. Como a violência vêm sendo utilizada ao longo da história humana, desde os tempos das cavernas, e, sim, às vezes sendo o melhor jeito de se conseguir alguma coisa, ela ficou “impregnada” em nossos genes. Mas não deixa de ser violência: é sempre o mal em ação, ainda mesmo quando pareça construir um atalho para o bem. Por isso, os mesmos estudiosos acreditam que o melhor para a raça humana seja a prática do altruísmo, tendo como meta a irrestrita felicidade global, pois contestam a validade de uma sociedade voltada tão somente para o consumo material.
Isto não é novidade para os Espíritas: Segundo o Espírito Verdade (LE. 785), o maior obstáculo ao progresso moral é o orgulho e o egoísmo. Ambos caracterizam o sentimento ainda muito imperfeito que aliado à ignorância das leis naturais e seus mecanismos de atuação, originam as ações contrárias a essas mesmas leis constituindo a violência. Como nos diz Meimei, no livro “Senda para Deus”, ‘Violência não está unicamente nos processos da vida física. Acha-se igualmente ocultada nos recessos de nossa vida íntima. Sabemos que quase todas as ocorrências começam nas fontes do pensamento’. Devemos, por conseguinte, combater a nossa violência interior em todas as suas formas e intensidades. Muitas vezes achamos que não fazemos mal a ninguém, mas nossa impaciência, irritação e nossos pensamentos infelizes agridem ao próximo, assim como agredimos a nós próprios diariamente, através do consumo de fumo, bebidas, remédios e alimentos inadequados ou exagerados, atacando nosso campo emocional e psíquico.
Em Violências, Pena de Morte e outros Dramas, o irmão Ivan René Franzolim alerta que “A propensão à violência é característica dos Espíritos vinculados ao planeta Terra, variando apenas quanto à intensidade e aos estímulos necessários para desencadear a ação violenta. Daí o "não julgueis", induzindo-nos pelo raciocínio, a buscarmos maior prudência ao julgar o próximo, porque não sabemos se guardamos em nosso íntimo o mesmo grau de violência que condenamos, esperando apenas as condições propícias para despertar”. Daí ser inquestionável a ação da indulgência em prol de quem errou, como um dos mais importantes caminhos para a sustentação da paz. O já citado “não julgueis”, inclui a violência mental, como nos alerta, novamente, o Espírito Meimei: ‘Fantasiar minudências, em derredor do problema é criar dificuldades em nosso prejuízo, de vez que a fraqueza é inerente ao nosso próprio modo de ser; e favorecendo aberturas para o mal, estaremos ameaçados de cair nas tentações em que se arremessaram aqueles mesmos companheiros que pretendemos julgar precipitadamente’.
O conhecimento espírita oferece diversas medidas preventivas para evitar que o sofrimento surja em conseqüência da lei de ação e reação. Se o fato de se possuir algum conhecimento das leis naturais não assegura a ninguém manter um comportamento equilibrado, tal conhecimento, porém, colabora com a educação da não-violência em nossas crianças, por exemplo. Como alerta o pediatra Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, na Revista Science: “Não é saber como as crianças aprendem a agredir. É saber como elas aprendem a não agredir”.

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