quinta-feira, 31 de maio de 2007

BÍBLIA SAGRADA: APENAS UM “LIVRO DE RELIGIÃO”


Bart D. Ehrman é Ph.D. em Teologia e é considerado a maior autoridade em Bíblia do mundo. Durante 30 anos, pesquisou os primeiros manuscritos cristãos e se surpreendeu com a quantidade de erros e alterações intencionais feitas pelos tradutores antigos. Uma constatação, duas conseqüências: primeira, Bart escreveu o livro “O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?” (Prestígio Editorial, 2006). Segunda: Bart se tornou agnóstico, atitude um tanto radical.
A Bíblia não remonta a tão antiga data como se costuma crer, pois há indícios de retoques feitos depois da volta da Babilônia, porque nela se encontram alusões ao cativeiro dos judeus nesse país, fato ocorrido cerca do ano 700 d.C. Talvez por isso não exista registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés. Muitos reinos e locais citados na jornada dele pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando teria ocorrido o Êxodo. Tais locais só passaram a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Sequer havia um Monte Sinai! Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos. Hebron e Bersheba, citados na viagem de Abraão, não existiam então. Do império Salomônico nunca se encontrou ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém. David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá. O Sinédrio não se reunia durante a Páscoa, então é bem provável que o julgamento de Jesus perante o mesmo nunca ocorreu. Tal versão teria sido inserida na Bíblia após a ruptura definitiva entre cristãos e judeus. Não há certeza sequer sobre o número de discípulos que viviam próximos a Jesus. Nos Evangelhos, apenas os nomes dos oito primeiros apóstolos conferem, mas os quatro últimos tem muitas variações. É bem provável que o “redondo” número de 12 apóstolos foi inventado para refletir, no Novo Testamento, as 12 tribos dos hebreus descritas no Velho Testamento. A Via Crúcis foi criada no século XVI, quando Jerusalém esteve nas mãos dos Cavaleiros Cruzados. Que Jesus não nasceu em 25 de Dezembro todos já sabem. A data foi inserida no século VI, quando o calendário foi alterado. O Imperador Constantino resolveu conclamar o Cristianismo como religião oficial do Império e apostou no sincretismo: Fundiu símbolos, datas, rituais pagãos com tradições cristãs. As cerimônias, os vasos, os cânticos, a água benta, são legados do paganismo. O altar, o fogo sagrado, o pão e o vinho consagrados à divindade vieram do Bramanismo. Os deuses pagãos tornaram-se demônios. Dos heróis, fizeram santos. As festas religiosas dos antigos povos ganharam formas diferentes, como a dos mortos. No dia 25 de Dezembro, nasceu Mitra, deus pré-cristão. Ele morreu, foi enterrado em sepulcro de pedra e retornou após três dias. Krishna, ao nascer, recebeu ouro, incenso e mirra.
Em 325, o Concílio de Nicéia proclamou a divindade de Jesus. Até então Jesus era, para Mateus, um novo Moisés. Para Marcos, Ele era uma persona muito ativa, fazendo milagres e confrontando o Império Romano. Para Lucas, Jesus é um homem misericordioso e sensível aos dramas do povo. João aprofunda seus elementos espirituais. Para os gnósticos, conjunto de seitas que existiu no início da Era Cristã, Jesus era imaterial. Os gnósticos foram considerados hereges e o argumento de “contaminação gnóstica” foi utilizado pelos bispos católicos para impedir a entrada dos Evangelhos Apócrifos no Cânone. Ficaram fora da Bíblia, mas foram aceitos pelos fiéis mesmo que inconscientemente. É nos Apócrifos, e não nos canônicos, que estão relatados a infância de Maria, o casamento com José, a presença de um boi e de um asno no nascimento de Jesus, a virgindade antes e depois do parto, o número e o nome dos Reis magos e os nomes dos ladrões crucificados ao lado do Mestre. O uso de Palmas para cultuar Maria e o Lírio como símbolo de São José, também estão explicados nos apócrifos. A assunção de Maria, dogma católico desde 1950, mas que não consta dos Evangelhos Canônicos, prova que os Apócrifos driblaram as proibições.
Foi a Igreja de Roma que optou pela corrente da apostolicidade, na figura maior de Paulo, cidadão romano, que termina sua pregação quando o Evangelho chega a Roma. Paulo foi intimado a participar do Concílio Apostólico de Jerusalém, em 49. Um encontro tenso, aonde, pela primeira vez, veio à tona as divergências entre Paulo e os judeus-cristãos. Na Epístola aos Gálatas, Paulo deixa clara a tensão entre ele e os demais apóstolos. Até o século IV o cristianismo tinha duas correntes distintas: uma liderada por Paulo e outra por Tiago, irmão de Jesus. Quando o Império Romano oficializou o cristianismo, a corrente paulina foi a escolhida. Mas, para alguns historiadores e teólogos, nem todas as Epístolas foram escritas por ele, pois divergem em estilo literário e conteúdo.
O Espiritismo, através de estudos tão sérios e profundos quanto os de Bart D. Ehrman, prova que a Bíblia não é um livro “santo”, mas, um livro “de Religião”. Ainda assim, segundo Emmanuel, a leitura da Bíblia é útil, pois “constitui sempre proveitosa sementeira evangélica” (O Consolador, Q. 281). Portanto, com toda sua autoridade biblista, Bart não precisava virar um agnóstico. Bastava se tornar Espírita.

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