quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A SALVAÇÃO SEGUNDO HITLER - PARTE I

FAVOR NÃO ALIMENTAR OS MONSTROS



“A natureza não dá saltos”. Esta é a afirmação do filósofo alemão, Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) em seu Princípio da continuidade. O propósito de Leibniz foi criar uma doutrina compatível com os postulados de todas as correntes filosóficas, desde os modernos como Francis Bacon, Thomas Hobbes, e René Descartes, até aos aristotélicos e escolásticos. Além de formular novas idéias, buscou aclarar questões confusas e enganos nos sistemas filosóficos, - principalmente na filosofia de Descartes, - reconciliando-os pela união de seus pontos comuns, descendo a detalhes para descobrir concordâncias de idéias ou remover contradições. Leibniz afirma que, assim como a correnteza é a causa do movimento do barco, mas não de seu atraso, assim também Deus é a causa da perfeição da Natureza, mas não de seus defeitos. Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo de bem e o mínimo de mal.
Alguns estudiosos acham falso a afirmativa que Leibniz visse apenas como politicamente importante para os Estados Alemães a união religiosa e o espírito de tolerância entre católicos e protestantes. Eles defendem que Leibniz, do mesmo modo que buscava fórmulas conciliadoras na filosofia, também tentou encontrá-las na teologia, por acreditar que as verdades fundamentais estavam contidas em cada corrente contrária, filosófica ou teológica, bastando mostrar as coincidências para se chegar à conciliação. O projeto não foi adiante por razões políticas e pela desunião entre os próprios protestantes. Leibniz esbarrava na natureza humana, que também não dá saltos.

O espiritismo nos ensina que todos os espíritos são criados simples e ignorantes, conforme o capítulo VII, parte segunda de O livro dos espíritos. Se fôssemos criados perfeitos, não teríamos merecimento para desfrutar os benefícios dessa perfeição. Mas ser criado simples e ignorante não significa ser mau ou bom, isso fica por conta do nosso livre-arbítrio, que se desenvolve à medida que evoluímos moral e intelectualmente, partindo de espíritos imperfeitos até chegarmos a espíritos puros. Degrau por degrau, sem saltos. Compreender a evolução segundo a ótica espírita é fácil. 
Mas, por um destes mistérios que envolvem a natureza humana, difícil é entender porque os homens preferem tentar saltar etapas, mergulhando uma lição tão simples e clara num caldo de receitas místicas, buscando transformações drásticas. O resultado, quando não idéias estapafúrdias ou pseudo-religiões, descambam para ameaças contra a vida humana, personificadas em gente como Adolf Hitler (1889-1945).

O desejo de comunicar-se com os Espíritos, também de desvendar a simbologia das antigas tradições, estiveram presentes na biografia de personalidades como Platão, Giordano Bruno e do cientista Isaac Newton. Surpreendente mesmo é encontrar o interesse pela espiritualidade na figura do ditador alemão, entre as sombras de seu ignóbil projeto de dominação mundial. Confrarias secretas, sessões mediúnicas e enigmas do ocultismo são ingredientes inesperados da trama secreta de ascensão e queda do ditador maldito. 
A mente conturbada de Hitler, envolvida com teorias conspiratórias e perspectivas de súbitas transformações do mundo, levou o povo alemão a um delírio de proporções catastróficas. 
Conhecer extremos como a paranóia do Führer nazista é um bom alerta para quem se seduz com as enganadoras novidades dos falsos profetas, que, com profecias apocalípticas, repetem essa história de tempos em tempos.

Tudo começou quando Hitler, ainda jovem, vagava pelo museu Hofburg, em Viena, e deparou-se com uma lança que, supostamente, fora inserida no tórax de Jesus. A lenda em torno da lança dizia que quem a possuísse e decifrasse seus segredos, teria o destino do mundo nas mãos, para o bem ou para o mal. A partir daí, Hitler envolveu-se em mistérios profundos e aterradores, estimulados pelo uso da mescalina, substância alucinógena.
Em 1919, Hitler conheceu Thule Dietrich Eckart (1868-1923), um satanista, membro da Sociedade de Thule. Esse grupo secreto estava em busca do "messias da raça nórdica", mergulhado em sonhos de eugenia e, para isso, realizavam sessões mediúnicas com materializações dantescas e comunicações escabrosas. Outro recurso utilizado eram as hipnoses com regressões a vidas passadas, e um dos magnetizados foi exatamente o obscuro cabo Adolf que teria sido Landulf de Capua, Conde e Bispo italiano que viveu no século 9. Landulf instigava seu imperador a guerrear contra os árabes enquanto aliava-se secretamente aos muçulmanos e praticava a temida magia negra, chegando aos rituais com sacrifícios humanos. Há ainda referências de que o ditador teria sido o Ahab, mago e marido de Jezebel, adoradores de Baal que planejaram o assassinato do profeta Elias. Ou que Hitler fora o rei Herodes, perseguidor de Jesus, mas aí, ou desde o início deste parágrafo, estamos mergulhando nas águas da fantasia. Em meio a essas narrativas misteriosas, Hitler já se convencera de sua “principalidade luciferina”, considerando a ação de poderes trevosos invisíveis a serviço de suas ambições. Uma das fontes inspiradoras da propaganda bélica de Hitler foram as centúrias de Nostradamus. Acreditando-se um autodidata, o ditador bebeu em esotéricas ou mânticas fontes heterogêneas.

Mas isto veremos na segunda parte deste artigo. Até lá!


Autores: Paulo Henrique de Figueiredo e George De Marco
Ilustração: George De Marco
Arte-Final: Fred Aguiar & Silva



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