Gosto de interagir com meus oito leitores do jornal Correio Fraterno e com os fiéis corajosos seguidores deste blog. Já propus um teste para medir a confiança em Deus. Agora, convido-os a identificar os personagens que se encaixam nos perfis apresentados abaixo:
Personagem A: Ele veio ao mundo para anunciar a salvação e a bem-aventurança da humanidade. Foi preso, julgado e crucificado. Morto e sepultado, retornou ao mundo dos vivos ao terceiro dia, aparecendo para uma mulher. Após quarenta dias, ascendeu aos céus.
Personagem B: Ele, filho único, foi enviado à Terra por seu pai para salvar a humanidade. Aqui, foi criado por pais adotivos humildes. Na idade adulta, passa a cumprir sua missão vindo a falecer. Porém, depois de alguns dias, seu sepulcro aparece aberto e ele, ressuscitado.
Personagem C: Ele é conhecido como Rei dos Grandes Reis. Mesmo assim, foi humilhado por seus algozes, que o amarraram e açoitaram-no enquanto faziam deboches e, por fim, morto. Seu corpo, depositado numa grande pedra que se rompeu em duas, após grande estrondo: Ele retornara do mundo dos mortos!
É provável que a resposta para os três personagens tenha sido apenas um nome: Jesus. E até poderia ser, mas, em verdade, não é. A figura de Jesus está descrita apenas na letra “A”. Já na letra “B” temos a história do Homem de Aço, o Superman, nascido no planeta Krypton. E, na letra “C”, encontramos Aslam, o leão-rei criado pelo escritor irlandês C. S. Lewis no livro “As crônicas de Nárnia” – e que também virou uma série de filmes.
Lewis, que já havia escrito obras ligadas à teologia e a apologética cristã, se converteu ao cristianismo e, por isso, muitos acreditam que ele tenha se utilizado de temas cristãos ao criar sua série de livros. Mas o próprio autor afirma que sua intenção inicial não era usar tais temas, e que estes somente teriam sido naturalmente incorporados durante o processo de criação. Mesmo assim, em todos os romances da série são encontrados fatos relacionados a acontecimentos bíblicos. E o mais óbvio é o leão-rei Aslam e seu paralelo com Jesus, que também é conhecido, é bom lembrar, como O Leão da tribo de Judá.
Já com o Superman a coisa fica ainda mais explícita, conforme podemos observar no que está escrito na letra “B” acima. Além disso, o nome verdadeiro do herói é Kal-El e “El” significa “deus” em hebraico. Já os pais adotivos do super-herói, inicialmente, se chamavam Joseph e Mary – José e Maria. Depois, os nomes foram trocados para Jonathan e Martha. E ainda tem o vilão, Lex Luthor – o amigo do herói que, por inveja, se torna seu inimigo. Alguém lembrou da história de Lúcifer, o anjo caído? Não à toa, portanto, o Superman é considerado um dos maiores mitos da cultura popular.
A palavra “mito” costuma ser utilizada de forma pejorativa no que diz respeito às narrativas das crenças humanas. Porém, a partir do momento que determinados fatos e/ou pessoas adquirem forte carga simbólica, tornam-se mitos também, verdadeiras expressões dos conteúdos psíquicos mais valiosos do ser humano. Os evangelhos, por exemplo, seguem uma estrutura dos mitos de herói quando narram a vida de Jesus – ao menos, 17 incidentes típicos das narrativas mitológicas, como o nascer de uma virgem, por exemplo. Os estudiosos apontam paralelos entre o Mestre Nazareno e Mitra, Apolo e Dionísio. A devoção ao menino Jesus reedita o culto de Murugan, o filho de Xiva (deus supremo), da mesma forma que Xiva, na figura de Pashupato, o Senhor dos Animais, têm paralelo com Jesus, o Bom Pastor. Desta forma, os evangelhos construíram o mito Jesus não apenas com elementos da tradição judaica, mas também do mundo pagão. Se encontramos esta variedade tendo acesso apenas aos textos canônicos, a coisa se expande quando incluímos os chamados “apócrifos”.
A diferença crucial entre os evangelhos canônicos e os apócrifos é que os primeiros ressaltam a divindade do Cristo e os outros exploram bastante a humanidade Dele. Se os primeiros fazem questão de preservar a imagem de Jesus como um homem sério, os demais o apresentam como uma pessoa alegre, que gostava de festas, aonde dançava e bebia vinho. No Evangelho gnóstico de Tomé, Jesus é apresentado como mestre de uma sabedoria oculta e, por isso, a frase escrita na tabuleta fixada à cruz – Jesus Nazareno, Rei dos Judeus -, em verdade teria outro significado, dando à Jesus a condição de nazir ou nazireu, pessoa consagrada inteiramente a Deus. Já a expressão “Rei”, aqui, estaria ligada aos mestres que iniciavam os adeptos. No início, estas diferentes visões sobre Jesus conviviam em simultâneo. Depois, a Igreja as dividiu entre ortodoxas e, até, heréticas.
Esta divisão em torno da figura de Jesus já havia acontecido antes, por volta do ano 48 d.C., quando Paulo, após se converter, prega fora da Palestina para os não-judeus e inicia um desentendimento com Tiago, irmão de Jesus, para quem Ele era o Messias que veio ao mundo libertar o povo judeu da opressão. Paulo, porém, apresentava Jesus sob o nome grego Cristo, o filho de Deus. Este Cristo celestial de Paulo obscureceu o Jesus histórico, cresceu no Império Romano e assim ficou conhecido por todo o mundo.
É fato que Jesus já motivou muitas pesquisas em torno de sua figura. Já teve estudioso declarando que ele nunca existiu, mas isso já foi descartado diante do progresso das pesquisas em torno do contexto histórico em que ele viveu. Ainda assim, o debate segue: Quem foi (ou quem é) Jesus? A resposta mais direta, objetiva e que bem poderia encerrar este debate está em O livro dos espíritos, questão 625, quando os espíritos da codificação apresentam o Mestre como guia e modelo para o homem. Nas palavras de Allan Kardec: exemplo da perfeição moral a que pode pretender a humanidade na Terra.
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