quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ALICE NO PAÍS DO AUTOCONHECIMENTO


Tenho uma prima que se chama Alice. Todos os meus oito leitores do jornal Correio Fraterno, bem como os fiéis e corajosos seguidores deste blog já sabem disso, mas repito caso surja algum novo candidato a ler estas mal digitadas linhas. Portanto, é bom repetir, também, que desde que vim morar em São Paulo, eu e ela trocamos e-mails quase que diariamente, com linhas e linhas analisando o mundo e, principalmente, a nós mesmos.

Ultimamente, porém, Licinha (para os íntimos) está tristinha. Uma grande amiga dela está muito doente, vitimada por um AVC. Os e-mails de Alice andam pungentes, carregados de emoção. Neles, minha prima relata um pouco dos diálogos que trava com a amiga: “nossa conversa é sobre nós mesmas, sem pudor e mentiras, mas com o Cristo nos dando os parâmetros”. Por isso, resolvi, mais uma vez, trazer as considerações que minha prima faz diante desta dor, pois acredito que poderá ajudar a alguém que enfrente situação parecida.

A tristeza de Licinha vem não só pela situação da querida amiga, mas, segundo ela, também do fato dela, Alice, ter se dado conta de sua “infantilidade como ser humano e filho de Deus”.  Junto com a amiga enferma, ela lê o Evangelho e, juntas, elas riem, choram e, principalmente, “somos honestas conosco mesmas, digo que ela sabe mais da minha vida que eu própria”. Alice acredita que as conversas com a amiga “nos melhoram, mas você sabe, o que conta mesmo é a prática”. Através das conversas francas, ambas praticam o “conhece-te a ti mesmo”.  Na questão 919 de O livro dos espíritos, Kardec pergunta aos espíritos da codificação “qual o meio mais eficaz para nos melhorarmos nesta vida e resistirmos às solicitações do mal?” A resposta é simples e direta: “Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo”. Ou seja, devemos nos conhecer intima e interiormente. Mas um conhecimento real, pois não somos bons juízes de nós mesmos e encobrimos nossos defeitos e dificuldades como se, escondendo-as, elas desaparecessem. Aqui, cabe lembrar o Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 17, que no item 3, nos ensina sobre o verdadeiro homem de bem: “é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem”. A página em destaque merece ser lida por completo, pois encerra uma análise muito elucidativa. Fica o convite.
Ao lê-la, Alice e sua amiga perceberam, então, que “é isso que viemos fazer aqui no planeta, foi nos conhecermos, porque o resto é consequência.  Jesus, em Mateus 12.29 deixou bem claro: Como poderá alguém entrar na casa de um homem forte e roubar os seus haveres se antes não o tiver amarrado?. Todo reino dividido contra si mesmo será devastado...(idem, 12.25). Aí logo pensamos em algo de fora para dentro, como ladrões, inimigos; mas não os de dentro para fora: ladrões, inimigos de nós mesmos.  São os nossos problemas internos que nos transformam  numa "família dividida”, o “homem forte" que, amarrado,  perde os pertences mais valiosos: a alegria, a paz, o amor, a misericórdia”.

Analisar sinceramente nossa consciência, claro, é algo que parte de nós mesmos, e não dos outros. E esta sinceridade não pode ser confundida com valentia. Uma característica que Alice encontra na amiga: “Não quero, não aceito, não concordo ela os dizia sem medo, sem piedade;   e eu sempre me admirei e me amparei nessa valentia”. Então Alice descobre que “essa valentia de todos nós é aquela do reino dividido contra si mesmo”. Por isso, ela vai se analisando, se comparando, “procurando fazer do meu sujeito forte, um cara desprendido e desamarrado para que a vida não precise me ensinar batendo com muita força”. 

Os espíritas costumam dizer que “Quando não se aprende através do Amor, aprende-se através da dor”. Não é esta dor, porém, que Alice está sentindo. “Ninguém pediu tanto a Deus por mim quanto essa mulher, sem exigências, sem pedir nada em troca”, me conta ela. A amiga partindo sobrará, para minha prima, “poucos, raríssimos, para espantar a ignorância e a solidão. Não que isso me assuste, mas fica um vazio, uma sensação que o essencial ainda não foi feito”.
E, como diria a letra daquela canção espírita de autor desconhecido, “o essencial à vida é a sabedoria para conduzi-la. Fazer de cada dia um dia de paz, um dia feliz...”  .




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