terça-feira, 9 de novembro de 2010

PRECISO DE PALHA. PRECISO DE TEMPERO. PRECISO DE CARINHO


No princípio, foi a internet. E todos viram que era uma coisa boa. Depois vieram os sites, os e-mails, os sistemas de mensagens instantâneas e as redes sociais. E então vieram os joguinhos online. Para quem (ainda) não sabe, são jogos eletrônicos jogados pelo computador, com um os mais participantes que não necessariamente precisam estar no mesmo lugar. Basta estarem num computador conectado à internet.
Nas redes sociais está se tornando prática comum os jogos onde cada um tem sua lojinha, sua fazenda, seu restaurante, sua oficina... O objetivo é prosperar, ganhar ‘dinheiro’, juntar ‘clientes’ (os amigos), trocar presentes, ajudar os ‘vizinhos’ a crescer, passando por etapas que vão permitindo ampliar o próprio ‘negócio’. Então, surge o efeito previsível: os jogos estimulam o petitório entre os amigos. Quanto mais amigos, mais se prospera. E aí o jeito é fazer mais amigos, para pedir mais e mais ajuda, ainda que entre pessoas que você não conhece ou nem tem o mínimo de intimidade. Neste ponto, avança-se sobre a tênue linha que separa o prazer de jogar pela ansiedade descontrolada. Não é um sintoma novo: desde que se tornou parte do cotidiano das pessoas, a internet e seus serviços despertam uma necessidade compulsiva de se estar conectado. A lavoura virtual não pode secar.

Na década de 1970, o sociólogo americano Robert Weiss escreveu que existem dois tipos de solidão: a emocional e a social. A primeira seria um “sentimento de vazio e inquietação causado pela falta de relacionamentos profundos”. A segunda, solidão social, é o sentimento “de tédio e marginalidade causado pela falta de amizades”. Não são poucos os estudos feitos em diversos países do mundo que reforçam tese de que os sites de relacionamentos diminuem a solidão social, mas aumentam significativamente a emocional. Um estudo da Universidade de Sydney, Austrália, feito em 2009, mostrou que pessoas que usavam a internet como uma ferramenta de comunicação, tinham um nível menor de solidão social. Já os que utilizavam a rede para fazer amizades, apresentaram um grau de solidão emocional considerável.

É fácil entender: uma amizade virtual, como o próprio nome diz, não é física. Não tem contato, não há uma reação emocional aparente. Como não sabemos o que estamos causando, nos expomos muito além do comum (e do necessário). As relações se tornam superficiais, enquanto as mais afetivas, baseadas na reciprocidade, princípio da verdadeira amizade, se perdem. Num momento difícil, o ombro amigo é substituído pelo teclado frio, pelo mouse silencioso. E você nunca saberá se a pessoa do outro lado da tela está, de fato, conectada a você pelos liames do sentimento verdadeiro. A amizade é um dos muitos tipos de laço de amor entre as criaturas, mas nem todos possuem mãos hábeis para atar estes laços. Curiosamente, um estudo recente feito por cientistas da University College de Londres comprovou que um aperto de mão forte, decidido, convicto, pode mesmo indicar o estado de saúde e a longevidade da pessoa.

Nas redes sociais, prevalece a amizade por conveniência. O nível de afinidade, ou a falta dela, fica explícito. Bloqueia-se esta ou aquela informação, ignora-se ou deleta-se este ou aquele fulano, para, mais adiante, em sendo preciso, adicioná-lo novamente. Ninguém mais precisa aturar, suportar ou dividir o mau momento de alguém, se não quiser. Ou pode fingir que se importa, afinal ninguém está vendo, de fato, se ele está preocupado ou não com aquilo. Ao dividir um momento difícil pela internet, seu interlocutor pode estar teclando com inúmeras outras pessoas, fazendo um monte de outras tarefas - inclusive jogando.
Falando de lavoura e amizade, mas as reais, no livro Vinha de luz, Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, comenta que “existe uma ciência de cultivar a amizade e construir o entendimento”. E nos lembra que não é possível colher, sem semear. A amizade surge do esforço que dedicamos à aquisição do amor. Se queremos amizades fiéis, precisamos nós sermos fiéis aos nossos atos, palavras e atitudes, porque aqueles que temos na conta de amigos esperam isso de nós.

Atentemos para o conselho de Emmanuel: examinemos, diariamente, nossa lavoura afetiva tal qual fazemos com nossas lavouras virtuais. Precisamos estar atentos para não exigir demais de nossos amigos, pois amizade surge da confiança, da certeza de sermos úteis, sem exigir algo em troca, ainda que seja palha, comida, cavalo, carinho...
Cultivar amizades sinceras é colher paz, alegria e progresso na senda espiritual que nos aguarda.

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