
*Aproveite o dia!
Assim como todos nós, um dia Eclesiastes perguntou: “O que dá importância a minha vida?”
No livro, Eclesiastes nos conta sobre como tentou ter sucesso em todas as áreas. E fracassou em todas. Como tantos jovens ricos, dedicou-se ao prazer em geral que o dinheiro pode conceder. Quando fica mais velho, percebe a efemeridade da riqueza, do prazer e do poder. Num esforço para descobrir o sentido da vida, começa a estudar. Porém, quanto mais sábio, mais vê com clareza as torpezas a sua volta. A riqueza e o prazer não deram à vida do Eclesiastes um significado duradouro. A sabedoria também não. Eclesiastes, então, se torna religioso. E também se desaponta, pois nem mesmo o mais alto grau de virtude o protegerá da morte... Como podemos continuar vivos, depois de uma existência de fracassos? O que interessa continuar vivo, ao se estar velho demais para buscar novos objetivos? Se o sonho de sua vida sempre foi sucesso, dinheiro, status, mas você se dá conta que o tempo passou e nunca vai conseguir nada disso, como conviver com os destroços dos sonhos desfeitos? Faz diferença a maneira pela qual vivemos, sendo bons, honestos e compassivos se nada disto faz diferença no saldo bancário? Por que ser bom, honesto, com tanta impunidade ao redor?
Tais perguntas surgem por conta da sociedade em que vivemos, aonde somente os fatos têm valor, portanto as pessoas só são dignas quando bem-sucedidas. Estudar é recomendável, não porque vai aprofundar sua alma, seu entendimento da vida, mas para aumentar suas oportunidades de ganhar mais poder e dinheiro. Nosso valor é medido por nosso desempenho. Daí jovens e idosos serem tão discriminados: por que não fazem nada. É a avaliação das pessoas pelos padrões humanos. O resultado não é apenas uma desorientação moral, mas um estado doentio coletivo, psiquiátrico, religioso. Somos convencidos de que nada que fazemos vale à pena, muito menos o bem. Baseando-nos em instintos e sentimentos difusos, nossa busca por um significado para a vida chegará a nada mais que preferências e desejos pessoais e, neste caso, surge outra grande pergunta: Quem precisa de Deus?
A questão, aqui, não é a existência de Deus. A questão é a diferença que Deus faz em nossas vidas. Nossa vida é importante por que não estamos aqui apenas para viver, mas para fazer a Sua vontade ao nos impor um senso de obrigação moral. Deus não se torna resposta às nossas indagações por que vai punir os maus e recompensar os bons – isto seria trivializar a religião, baseada em medos e expectativas irreais. Ele se torna resposta por ter feito a alma humana, nossa centelha divina, de tal forma que apenas uma vida de bondade e honestidade nos harmoniza espiritualmente. Como nas bem-aventuranças, que só podem ser bem compreendidas com a justiça da reencarnação, visto que a maioria das promessas nelas contidas não são constatadas na vida atual. Deus nos redime do fracasso e do medo porque nos vê de uma forma que a visão humana não alcança: Somente Ele nos dá crédito pelas palavras erradas que não proferimos, pelas tentações que não caímos, pela paciência e gentileza ignoradas pelos outros.
Eclesiastes escreveu seu livro para dividir conosco seus desapontamentos e para nos avisar que não devemos desperdiçar nosso tempo na ilusão de que riqueza, sabedoria, prazer ou virtude dão sentido e importância às nossas vidas, pois o que importa é sermos fiéis a nós mesmos, à nossa centelha divina, que exige coisas como honestidade e generosidade; a importância em reconhecer nos prazeres pequenos da vida o encontro com o Divino, que nos ensinam não somente que Deus é real, mas que também o somos. E isto sim, fará toda a diferença: Sentir-se humano é algo mais importante que estar simplesmente vivo.
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